sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pré-jogo: o trabalho dos laterais

Salve, amigos vascaínos!

Domingo temos uma batalha fora de casa contra o Atlético Goianiense, do nosso querido amigo PC Gusmão!
E essa não é uma partida que podemos considerar fácil. De modo algum, pois nosso oponente vem fazendo uma campanha até o momento surpreendente para seu tamanho. Teve resultados expressivos dentro e fora de casa, e só está com seus 7 pontos (apenas 1 atrás de nós) por conta de resultados que seriam totalmente aceitáveis: uma derrota em casa para o fluminense, uma derrota na casa do figueirense e um empate fora de casa com o galo. Duas vitórias importantes: Coritiba no Paraná e uma goleada sobre o Ceará.

Porém os resultados deles não podem justificar uma postura defensiva ou acomodada do Vasco. Precisamos ganhar, pois nas duas últimas partidas fora de casa tivemos empates com sabor de derrota. É a hora de compensar, nos aproximarmos do alto da tabela e ainda por cima garantirmos um bom resultado num jogo de seis pontos.

Pra anteceder essa partida, gostaria de falar do papel do lateral no futebol. E farei isso no sentido de colocar uma opinião pouco comum quando se trata dele. Qual é o senso comum sobre o lateral?
Suas principais funções são duas: defender seu flanco e avançar por ele até a linha de fundo com ultrapassagem ou jogada individual para o cruzamento na cabeça do queridíssimo centro-avante. Há laterais mais defensivos (que pedem mais participação dos meias ou de um ponta no ataque) e há laterais mais ofensivos (que pedem mais cobertura da zaga ou dos volantes).

Esse senso comum não está errado. Claro que não (se estivesse errado, dificilmente seria uma quase-unanimidade). Venho aqui apenas me colocar contra a simplificação do trabalho do lateral e das possibilidades da posição. E isso tem a ver com o Vasco porque nossos laterais não são exatamente bons nem na defesa nem nos cruzamentos de linha de fundo. Então nossos laterais são de todo ruins?

Se considerarmos apenas o senso comum, sim, eles são fracos. E o fato de eles não estarem nesse senso comum faz nossa torcida achar que eles são realmente fracos. Mas discordo.

Pensar que esta é a única maneira de um lateral jogar é consequência de estarmos sobrevalorizando o futebol europeizado dos cruzamentos para um centro-avante bruto, de estarmos sobrevalorizando o futebol Muricyzesco que, curiosamente, não apareceu tanto assim no Santos com Neymar e Ganso, mas o cabeceio do Zé Eduardo nunca foi dispensado. Que outras possibilidades existem então? Várias, vejamos:

1) No restante do futebol Sul-Americano, os laterais jogam quase que como zagueiros, em linha com o resto da zaga e subindo pouco. Mas, ao mesmo tempo, é um futebol cheio de cruzamentos. Quem faz isso com mais frequência não é o lateral, mas o meia. Não da linha de fundo, mas da intermediária. É o conhecido sufoco por "chuveirinho". E é exatamente esse estilo de jogo que fez com que nosso lateral direito Irrazábal, que não joga assim (e portanto tem pouco espaço no seu país) tenha tentado a vida, sem sucesso por suas limitações, no Vasco da Gama.

2) Existe também a possibilidade de o lateral jogar da zaga até a meia. Nesse caso, será um jogo mais defensivo, e ele será responsável pelo tal chuveirinho e pela articulação do jogo com um meia centralizado ou com um ponta, que fará a função de chegar ao fundo. No fim das contas, é uma posição intermediária entre o lateral defensivo do qual falamos anteriormente e um lateral mais ofensivo, que é aquele que vai à linha de fundo (o senso-comum: como o Mariano, quando jogou bem no Fluminense com o Muricy) ou que é o que falo na possibilidade 3, aqui abaixo.

3) Deixei para o final o caso em que nossos laterais mais se enquadram, e que, acredito, têm por aí seu valor. Ainda que eu reconheça as limitações de Fagner e Ramon (este principalmente): seus cruzamentos dificilmente dão certo; e pedem uma cobertura específica na defesa, eles têm características bastante interessantes. São muito bons de visão de jogo, posicionamento, velocidade e na hora de partir pra cima do adversário. O que fazer então se eles cruzam mal? É o tipo de lateral ofensivo, que joga nas costas do lateral adversário, mas com a bola no pé. Seu jogo é chegar em velocidade sendo lançado por alguém ou tabelando do meio-campo e a partir daí criar duas possibilidades: invadir a área na jogada individual pela ponta ou pelo fundo; ou tabelar/enfiar para o centro-avante ou ponta, dependendo da situação. Fazendo isso, com uma boa cobertura, nossos laterais podem ter muito valor, desde que a torcida, os comentaristas, o mundo entendam que existe vida além dos cruzamentos e linha de fundo.

Essa é a terceira possibilidade. É a que mais me agrada em termos de futebol. E funcionou por muito tempo, mas é hoje curiosamente ignorada. O que seria do maior centro-avante de todos os tempos, Romário, se o mundo do lateral se resumisse ao cruzamentos? Ora, isso nos leva a pensar que nem todo o centro-avante precisa ser um cabeçeador nato. E esse é o assunto do próximo pré-jogo.

Devo apenas ressalvar, para aqueles que fazem leituras rígidas, que nenhum lateral no mundo, em esquema tático algum, joga apenas de uma maneira. Todos eles mesclam possibilidades diversas. Então, não advogo para que nossos laterais se abstenham do chuveirinho ou da linha de fundo. Muito menos, espero que apenas defendam. Simplesmente digo que eles não devem ter como seu principal jogo o cruzamento e nem devem pensar que sua função é principal e exclusivamente a defesa. Espero ver enfatizada a estratégia 3 em nossos laterais, mas 1, 2 e o senso comum não podem deixar de estar presentes em determinados momentos.

Saudações, amigos!
G.

2 comentários:

  1. Grande texto, muito bem pensado, realmente esse terceiro estilo de jogo é o que se encaixa melhor com nossos laterais, isso ficou evidente com o Fagner quando ele partia pra cima do lateral adversário e pra entrar na área e rolar a bola pra trás, eu lembro tbm que no jogo da volta do Ramom se eu não me engano ele fez um gol assim, partindo pra cima e chutando cruzado, a bola morreu no fundo da rede, temos que torcer pra que Fagner e Ramom recuperem sua melhor fase, pra que se equiparem ao resto do time vascaino que hj em dia é muito bom.

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  2. E o Vasco tem um certo histórico de bons laterais jogando assim... Wagner Diniz foi destaque no Vasco tabelando e invadindo a área, por exemplo...

    Abraço,
    Obrigado pela atenção e pelo comentário!

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