quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um esquema para o Rei: deu certo ou não?

O marco do "Retorno do Rei" à sua casa numa partida fora de casa não me pareceu inicialmente uma boa idéia, que, inclusive, andou sendo eleitoreiramente criticada por aí...

E no "Retorno do Rei", outro filme foi repetido: 1 x 0 no início e má atuação depois, terminando em derrota. Poderíamos minimizar o fato, dizendo que perdemos fora de casa para o líder do campeonato, e que isso é plenamente aceitável. Sim, isso realmente minimiza o fato. PORÉM somos o Club de Regatas Vasco da Gama, temos um bom time, um elenco razoável e poderíamos ter feito muito mais até agora no Campeonato Brasileiro. 

Começa a perigar de sustentarmos uma posição de mero coadjuvante no campeonato quando precisamos de embalo para a Sulamericana e para o grande projeto do ano que vem. Estamos aquém do que este time, no papel, pode fazer.

E isso ficou nítido mais uma vez nessa partida: problemas sérios na atuação individual de alguns jogadores, inoperância ofensiva e medo de segurar a bola foram os aspectos técnicos mais destacados nessa partida. Apenas cito, para não comentar e sair demasiadamente do foco que Diego Souza, Alecsandro, Éder Luís e Márcio Careca foram muito mal. Mas preciso comentar a questão da posse de bola para adentrar a análise tática.

Quando Ricardo Gomes chegou ao Vasco, torcida, jornalistas e demais críticos constataram que o Vasco segurava demais a bola, fazendo a girar o tempo inteiro pela intermediária ofensiva pecando pela falta de objetividade e velocidade, pela falta de jogadas mais incisivas. Foi dessa maneira que Felipe fez suas melhores jogadas, estando mais próximo do ataque. O que vimos ontem e nos jogos mais recentes? Exatamente o oposto! Um Vasco que não consegue segurar a posse de bola, e quer o tempo inteiro resolver com enfiadas de bola, correria e lançamentos. Estamos com dificuldades na articulação das jogadas, dependentes da correria nada efetiva de Éder Luís para que a bola chegue ao atque. Ou seja, temos muito menos qualidade na chegada.

Isso introduz a análise tática porque, apesar de termos apresentado esse problema ontem, vejo uma esperança. Felipe e Juninho em campo podem nos dar a melhor qualidade de passe do Brasil, se forem utilizados da maneira correta. E podem também, ao mesmo tempo, criar jogadas incisivas e de velocidade usando o cérebro e fazendo a bola correr em enfiadas para os laterais e para os atacantes. Se isso ocorrer, aí sim poderemos reclamar da inoperância do Alecsandro, que não recebe boas bolas nunca, e, por isso, não faz nada nunca.

Ainda acredito, apesar da má atuação de ontem, que a disposição tática na qual entramos contra o Corinthians é a ideal. Ressalto que falo da disposição tática, porque discordo de Diego Souza no time titular. Assim, um 4-4-2 com o meio em losango é sim bastante interessante, e deu sinais de um treinamento bastante interessante defensivamente feito por Gomes. Vejamos na prancheta:

O grande destaque tático do Vasco ontem foi que o quarteto de meio campo estava mais próximo e se deslocava em conjunto. O formato de losango pouco era desfeito, principalmente defensivamente. Assim, ficou bastante nítida a orientação do técnico para que os quatro se aproximassem e jogassem próximos uns dos outros tanto para marcar quanto para atacar.

Quem tinha movimentação mais independente era Diego Souza, que recuava para a posição entre Felipe e Juninho, formando uma linha para ocupar a defesa e compensar a redução no poder de marcação do meio campo ou, no ataque, subia centralizado (destacando-se do losango) ou deslocado pela ponta esquerda. Frequentemente, também, Felipe ou Juninho (este foi mais enfático nessa função) destacavam-se do losango para adiantar a marcação na intermediária do Corinthians, pressionando por pequenos momentos e recompondo a formação posteriormente (quando um avançava, o outro automaticamente recuava ao lado de Rômulo). Ofensivamente este avanço foi menos frequente, e apareceu mais com Felipe, o que foi pouco efetivo já que nosso maestro recebeu uma carga de marcação muito pesada, e não possui mais a mesma velocidade e característica de drible.

Essa forte marcação corinthiana sobre nosso meio campo foi o que lhes deu a supremacia na partida. Apesar de o Vasco ter conseguido uma eficácia defensiva relativamente boa (se considerarmos que jogamos apenas com um volante essencialmente marcador) pela proximidade e deslocamento em conjunto já ressaltados, esse mesmo remédio se constituiu em veneno para nosso sistema ofensivo. A proximidade facilitava a marcação feita principalmente pelos volantes adversários (mas Jorge Henrique e sua catimba merecem também destaque) e fazia com que a bola queimasse nos nossos pés. Não mantínhamos a posse de bola, e não articulávamos jogadas complexas: isso se deve em grande parte, além da própria questão tática, à inoperância de Diego Souza, que à frente do losango deveria ser responsável por triangulações. Será que a marcação com pressão no meio campo, que já fora nossa grande arma, é a maneira mais efetiva de anular o Vasco? Considerando a má fase de nossos laterais (da qual apenas Fagner deu algum indício de recuperação, com boas jogadas individuais pela ponta), parece que sim.

Não podemos, entretanto, creditar nosso problema ofensivo apenas ao pouco empenho de Diego Souza e à forte marcação do Corinthians. Há questões táticas importantes. Primeiro, Éder Luís está jogando muito recuado, na meia direita, para ocupar espaços defensivos no meio campo e sair em velocidade: isso esgota o mineirinho e é facilmente marcado. Segundo, os laterais não tiveram tanta liberdade, pois sua cobertura era nitidamente menos eficiente do que com dois volantes de ofício em campo. Terceiro, Diego Souza precisava compor muito a linha defensiva com Juninho e Felipe, ficando também sumido do ataque. Em decorrência dos três, temos um quarto ponto: Alecsandro foi ainda menos municiado pelos meias e por Éder Luís e precisou sair ainda mais da posição de centro-avante para tentar algo, mas quando ele tenta algo, dificilmente dá certo.

Ricardo Gomes precisou criar estes problemas táticos ofensivos para dar mais solidez à defesa. Em alguma medida ele conseguiu, já que sofremos dois gols de fora da área, em jogadas que receberam uma pitada de sorte para o Corinthians. Após pedir mais tempo pra ajustar o meio, algo me leva a acreditar que o maior entrosamento permitirá que o vértice ofensivo do losango seja mais incisivo, e que Juninho e Felipe se soltem mais junto com seus respectivos laterais, de maneira alternada para garantir a cobertura. Isso, teoricamente, significará um Vasco que poderá garantir mais posse de bola e construir um jogo mais ofensivo e variado para atacar, dificultando estratégias simples que anulem o nosso sistema ofensivo como fez o Corinthians. Não preciso mencionar o acréscimo de perigo para o adversário em qualquer tipo de jogada de bola parada, não é?

Não comento as substituições porque elas (mais uma vez) pouco modificaram o Vasco. Em termos de posicionamnto e função tática, Leandro fez o papel de Éder Luís, Bernardo o de Diego Souza e Allan o de Juninho. Apenas Bernardo significou algum aumento de qualidade, que não se concretizou em empate por um capricho do azar (que seria sorte se a bola tivesse entrado no cruzamento que ele fez), entretanto devo destacar que Bernardo nunca consegue jogar bem no vértice ofensivo do losango, com a função de organização. Não é a praia dele, infelizmente.

O que fazer então, se Diego Souza precisa ser chamado para assistir o jogo ao lado do técnico? Propostas pipocam. Para não escrever muito mais do que escrevi, adiciono às minhas promessas de discussão futura. Quer dizer, no post do jogo contra o Inter espero falar também das opções de meio-campo, dos sistemas de cobertura dos laterais ou da questão das nomenclaturas de formações táticas.

Grande abraço,
Que superemos nossa sequência de maus resultados!

Um comentário:

  1. Gostei bastante do texto, só discordo quanto à formação do 4-4-2.
    Parabéns pela explanação!

    ResponderExcluir