domingo, 10 de julho de 2011

Falar do que não vi? Prefiro ir aos laterais...

Infelizmente, por compromissos familiares onde não havia como assistir ou ouvir a vitória de hoje do gigante da Colina, teremos um post prejudicado.

O que sei da partida? Vi os gols, li as reportagens e assisti aos melhores momentos, além de buscar na lista de blogs que costumo dar uma olhada (vejam aqui à direita, recomendo bastante).

Por isso, não me arrisco a falar da disposição tática pra não falar besteira.

Prefiro começar elogiando a saída de Diego Souza do time titular. Ricardo Gomes teve peito e personalidade para entrar com Bernardo em campo, por mais que, como já disse no post anterior sobre o jogo contra o Corinthians, não ache que ele se dê bem taticamente na posição. Ricardo Gomes disse na coletiva que ele melhorou por ali. Acontece que precisamos ali de um jogador que seja inteligente na movimentação, tenha bom passe e faça a bola correr de maneiras variadas, mas Bernardo nunca havia conseguido fazê-lo com eficiência suficiente. Vi alguns elogios sobre ele, espero que tenha conseguido melhor hoje.

A escalação de hoje: Fernando Prass, Fagner, Dedé, Anderson Martins e Marcio Careca (Jumar); Romulo, Juninho, Felipe (Diego Rosa) e Bernardo; Eder Luis (Diego Souza) e Alecsandro.

Tudo indica que o Vasco manteve a formação com o meio em losango. É o que nosso técnico havia afirmado que precisa treinar mais para não sobrecarregar o ataque com o suprimento da defesa. Entretanto, minhas limitadas informações sobre o jogo me levam a fazer algumas ressalvas.

- Nos melhores momentos Felipe aparece frequentemente chegando ao ataque pelo meio centralizado, por onde distribuiu bem lançamentos e enfiadas. É ali que ele é ofensivamente mais útil: foi elogiado no "troca de passes" (SporTV) e saiu aparentemente cansado para a entrada de Diego Rosa, o que pra mim é um grande enigma.

- A entrada de Jumar ainda no primeiro tempo no lugar de Marcio Careca pode ter fortalecido a defesa e facilitado a articulação ofensiva do time por isso. Essa pode ser uma alternativa importante contra o Atlético-PR, entretanto, contaremos também com a fragilidade maior da lateral direita sem Fagner, que, mal ou bem, é o titular da posição.

- Fiquei com a impressão de maior aplicação de Alecsandro e Éder Luís (que fez um gol bem estranho, em que a bola entrou por puro capricho, na minha opinião), que apareceram mais nos melhores momentos e mais bem municiados: ao que parece, precisamos agradecer aos nossos meias/volantes idosos. Com o cansaço de Éder, que me surpreendeu não foi Diego Souza em campo, mas Ricardo Gomes colocando jogadores com características diferentes pra jogar. Isso provavelmente mudou o Vasco.

Não preciso nem comentar que o Juninho é de fato nosso Rei, não é? Unanimidade nos elogios: "correu como um garoto", "organizou o meio defensiva e ofensivamente", "injetou ânimo e experiência no time", "bate na bola como ninguém" e tantas outras expressões que, em conjunto, descrevem um jogador diferenciado.

Não sabendo muito mais o que dizer do jogo em si, comento sobre os sistemas de cobertura dos laterais, um assunto importante e que tem muita relação com o esquema de jogo montado para a entrada do nosso Pernambucano.

Cobrir os laterais é fundamental. Quando um lateral recebe uma bola nas costas ou leva um drible sem a cobertura devida sempre temos um "Deus-nos-acuda" no sistema defensivo. Em qualquer clube do mundo. Então é fundamental cobrir direito a subida dos laterais para que a defesa esteja preparada para estas sitiuações, que invariavelmente acontecem de vez em quando. Como no Vasco temos laterais bem ofensivos, este foi um problema sério enfrentado por Ricardo Gomes.

Possuíamos grandes avenidas nas laterais. E esse é um problema que não se justifica apenas pelo fato de nossos laterais possuirem mais aptidões ofensivas. Ou seja, não é apenas uma limitação técnica, mas também tática. Sendo assim, o treinador precisa resolver o problema também por essa via: e aí entra o bom trabalho de Ricardo Gomes. A primeira solução óbvia é pedir que os laterais subam com prudência, preocupados em não deixar buracos na defesa: isso significa subir alternadamente, e não os dois laterais ao mesmo tempo. Mas apenas isso não é o suficiente. Nos sistemas com 4 defensores (2 zagueiros e 2 laterais), como os 4-4-2 que o Vasco tem utilizado, é necessário designar alguém para fazer essa cobertura, e esse alguém pode vir da zaga ou do meio campo. Vejamos algumas situações, com base no time do Vasco:

Nesse primeiro caso, quem faz a cobertura da subida do lateral é o zagueiro. O exemplo é pela subida do Fagner, mas o mesmo pode acontecer com a subida pela esquerda. Nesse caso, Dedé se desloca para a direita. A fim de evitar um buraco na zaga, Rômulo ocupa a posição de zagueiro, de onde Dedé saiu. É necessário, portanto, recompor defensivamente a posição do Rômulo. Para isso, os dois outros jogadores de meio do losango se alinham à frente da zaga para dar proteção com ênfase na direita defensiva, mas possibilitando a inversão da defesa caso o adversário vire o jogo pela frente da área.
No segundo exemplo, quem faz a cobertura da lateral é a ponta do losango: Felipe pela esquerda (nesse caso do exemplo) ou Juninho pela direita. Isso foi muito usado quando Eduardo Costa ocupava a direita do losango Vascaíno (foi nessa posição que nosso volante careca fez suas melhores atuações) e tem aparecido frequentemente nos losangos vascaínos. Nesse caso, a zaga fica fixa em posição, protegendo mais o miolo da defesa e o jogo aéreo, já que o Rômulo fica também com maior disponibilidade para proteger tanto a ponta esquerda quanto o centro da zaga ao se alinhar com  Juninho à frente dela. Coloco abaixo uma terceira possibilidade, que não temos usado devido à formação das últimas partidas, mas que já foi bastante usada pelo Vasco:
Caso entremos em campo com um esquema mais ortodoxo, um 4-4-2 com 2 volantes de marcação, apresenta-se uma terceira possibilidade interessante (e até uma quarta, semelhante à primeira, onde o zagueiro faz a cobertura e o volante ocupa seu lugar). Os volantes ficam responsáveis por essa cobertura, significando apenas o recuo de um meia para compor e a centralização do outro para um primeiro combate e organização de contra-ataque.

Escalei apenas os jogadores com maior importância nesses sistema, deixando de lado os atacantes, que em todos eles se posicionam de maneira semelhante: Éder Luís para subir no contra-ataque em velocidade e ocupar espaços no meio e Alecsandro de costas para fazer o pivô do contra-ataque. Ressalto a importância desse assunto porque apesar de nos dois últimos jogos (Inter e Corinthians) o Vasco ter usado o "esquema 2", todos os modelos citados aqui foram usados ao longo da temporada: a cobertura com os zagueiros ( com o meio em losango - esquema 1- ou em quadrado - sem desenho, mas semelhante ao esquema 1) e a cobertura com volantes (esquema 3).

Este assunto é importante como complementar ao assunto do post sobre o papel do lateral e ao outro sobre a importância dos padrões táticos, assunto presente na análise de Vasco x Cruzeiro. Ou seja, se temos laterais ofensivos e importantes na articulação pela meia e pelas pontas, é necessário que alguém se responsabilize por essa cobertura. E isso tem implicações tanto ofensivas quanto defensivas. Se optamos por uma cobertura mais sólida e combativa nas laterais, utilizando a zaga para isso, é necessário enfraquecer o miolo da zaga e sua proteção deslocando, respectivamente, um volante e um meia para as posições; se é necessário manter o meio da zaga sólido para o jogo aéreo, a cobertura do os jogadores do lado do losango ou com os volantes (em caso de 4-4-2 clássico) produz menos solidez nos flancos, mas uma marcação mais forte dentro da área e nas suas entradas.

Ofensivamete, porém é necessário pensar em dois aspectos: a roubada da bola e a distribuição do contra-ataque. Quanto designamos Felipe ou Juninho para esta função estamos perdendo força nos dois aspectos, a fim de garantir uma defesa mais sólida. Assim, sobrecarrega-se a transição defesa-ataque sobre um jogador de qualidade (quando poderia ser feita por dois) ou tendo que utilizar alguém que não tenha nessa função sua principal característica. É o que Ricardo Gomes tem feito ao posicionar Éder Luís na meia direita para puxar contra-ataques e receber lançamentos, quando a função do Éder se completa melhor quando ele já recebe as bolas do contra-ataque. Porém quando optamos por uma marcação mais efetiva nas laterais e menos sólida no meio, conseguimos manter nossos jogadores de qualidade técnica em posição mais propícia à organização do ataque: vide Felipe centralizado no esquema 3  e Felipe e Juninho alinhados no esquema 1.

O que é melhor? Se esperamos um padrão tático específico no Vasco, o modelo que pra mim é mais versátil e seguro é o modelo 1, levando em consideração nossa escalação titular. Mas repito meu questionamento do comentário sobre o padrão tático (Vasco x Cruzeiro): "um padrão tático específico é realmente necessário? ". E repito porque essa escolha irá variar de acordo com a escalação à disposição do treinador, com as aspirações ofensivas e defensivas para cada partida e também de acordo com a maneira de jogar do adversário. Essa tem sido a tônica de Ricardo Gomes: jogar as partidas adaptando nossa maneira de jogar àquilo que costuma fazer o adversário.

Como vantagem disso, temos o fato de que Gomes é muito bom para organizar esquemas táticos, o que aumenta nossa possibilidade de anular o adversário. Ao mesmo tempo, porém, isso significa reduzir a tendência do Vasco a impor sua maneira de jogar: nos tornamos menos previsíveis, mas perdemos em entrosamento e na atitude de superioridade que o Vasco precisa apresentar sempre por seu tamanho, qualidade e tradição.

Um grande abraço!

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