domingo, 4 de setembro de 2011

Um tropeço recuperável, mas... (AMG x VAS)

Num momento pouco propício...

Para entendermos o contexto e implicações desta partida, recomendo bastante a leitura da análise publicada no Blog do Almirante sobre o vexame diante do América-MG. Ele define a partida como "uma tarde infeliz", palavras de Fernando Prass. Isso é nítido e óbvio. Apesar de (mais uma) ótima análise do Almirante, receio me colocar numa posição mais pessimista com relação ao contexto geral. Isso tem a ver com minha análise do primeiro turno e das expectativas para o segundo, post feito após a partida de volta contra o Ceará (veja aqui).

No meio da semana, afirmei que essas seis primeiras partidas do primeiro turno eram o momento da arrancada. Disputaríamos 18 pontos relativamente fáceis, e precisaríamos, neles, conseguir um bom aproveitamento. Até agora, dos 18 disputamos 6 e ganhamos 3. Poderemos chegar a 15, o que significaria um aproveitamento de  83%. Ainda é muito bom, o suficiente para uma arrancada que nos dê a ponta do campeonato e a possibilidade de administrá-la no futuro. Mas o ideal, nesse momento, era o 100% neste primeiro terço do segundo turno. Porque os outros dois terços do turno serão muito mais complicados, enquanto para nossos adversários, especialmente o Corinthians, o fim de campeonato é teoricamente mais fácil.

O que alenta, conforme bem visto pelo Almirante, é que nossos adversários tropeçaram também. Dada a imprevisibilidade e equilíbrio do futebol brasileiro, era de se esperar mesmo algum tropeço. Sempre digo que goleadas no caso brasileiro são sempre atípicas dentro de uma mesma série, e não são, portanto, muito representativas do todo da situação. Quer dizer, essa derrota fala pouquíssimo da atual situação do Vasco e das nossas possibilidades, porque não jogamos conforme o Vasco tem jogado recentemente. Mas isso também decepciona, porque é mais uma oportunidade perdida e assumir a ponta.

Bom, por mais que essa derrota seja para mim bastante insignificante para mostrar o atual Vasco, não posso deixar de ser um pouco pessimista com os pontos perdidos. No fim, é apenas isso que ela representa. Não quer dizer que nossos jogadores são ruins, que não se esforçaram, que dependemos de Dedé ou que nosso interino é fraco. Mas quer dizer que perdemos pontos preciosos num momento em que não podíamos perdê-los, e que precisaremos recuperar estes pontos em algum momento, contra um adversário mais difícil. Espero que não acumulemos mais pontos a recuperar.
"E digo mais", por mais que seja mesmo insignificante, não posso deixar de fazer aquilo a que este blog se propõe: análise tática.

Entramos em campo com Fernando Prass; Fágner, Victor Ramos, Renato Silva e Márcio Careca; Romulo, Eduardo Costa, Juninho Pernambucano e Diego Souza; Eder Luis e Elton. Isso significou um 4-4-2 clássico novamente, como já vimos em outras situações. Cristóvão não inventou taticamente. Treinou uma variação utilizada previamente pelo nosso Chefe e a colocou em prática. Bastante comum: Romulo como volante mais recuado e responsável pela direita defensiva, Eduardo Costa dando combate avançado e protegendo mais o flanco esquerdo; os laterais com liberdade, cobertos pelos zagueiros; Juninho na centro-direita, recuando na marcação (não tanto, devido ao clima local austero, provavelmente) e com função de organizar o time (apesar de ter subido pela ponta direita em certos momentos) e Diego Souza quase como um ponta esquerda, com liberdade para centralizar; enquanto isso Éder jogava mais na ponta direita e Élton fazia o centro-avante comum. Nenhuma novidade, um desenho tático já visto várias vezes:

Não posso deixar de achar correto que Cristóvão não tenha inventado. Nosso problema passou muito mais por erros individuais e coletivos na questão física e técnica do que na questão tática. No primeiro tempo, sofremos um dois gols em falha de marcação pela direita: o segundo, num penalti cometido quando íamos lentamente ficando mais próximos de virar a partida. Aí o Vasco basicamente acabou. Fomos para o vestiário e retornamos tentando timidamente empatar em 2 a 2. Isso por si só já pareceria suficiente, porque seria um prejuízo menor e nos aproximaria da liderança, apesar de fazê-lo em uma situação bem mais embolada. Fizemos isso, porém, de maneira taticamente igual por um bom tempo.

É chegado o momento de cornetagem ao nosso técnico interino. Entraram Felipe Bastos (Juninho) e Bernardo (Diego Souza) TEORICAMENTE para fazer a mesma função tática. Perdendo por 3 a 1. Seria melhor ousar para tentar uma recuperação e ser goleado do que ficar na mesma e ser goleado da mesma forma. Até porque, por mais que o Juninho canse e não tenha jogado isso tudo, ele é infinitamente superior ao Felipe Bastos em TUDO (passe, chute, marcação, dedicação, velocidade etc.) e por mais que Diego Souza não estivesse jogando bem, ele estava sendo importante na ponta esquerda. Por que manter os dois volantes em campo? Era a hora do sacrifício, era a hora de ir pra cima buscar  o empate na base da pressão!

Tudo bem, o técnico preferiu não arriscar naquele momento. É aceitável. Mas ele não fez essas duas substituições para manter o esquema tático do time. Ele mudou de maneira altamente confusa: Éder Luís foi parar na ponta esquerda, onde ele nunca faz nada, e Felipe Bastos ficou muito recuado, enquanto  Bernardo se centralizou próximo ao ataque. Perdemos a transição com passes, perdemos o perigo de Éder Luís, perdemos a qualidade individual de dois jogadores importantes. E o que ganhamos? 

Mais confusão. Próximo aos 30 do segundo tempo, Leandro se prepara para entrar. Pensei: agora vamos ao 4-3-3 pra tentar alguma surpresa na base do abafa, pressionando as pontas e com uma referência na área. Élton sai. Não entendi absolutamente nada, vi apenas a seguinte figura:

time, especialmente a defesa, não aguentava mais correr: o clima atrapalhava, mas mais ainda o desânimo pelo vexame que sabiam estar dando. Dali não saiu mais nada além de um belo gol do Coelho: nesse, apesar de ter faltado combate direto dos volantes, eles têm uma boa parcela do mérito.

Apesar de todas as críticas, A CULPA NÃO É DO CRISTÓVÃO. Exclusivamente, a culpa não pode ser creditada a ninguém. Contraditório? Como já disse, goleadas são atípicas no futebol brasileiro. E podem ser explicadas apenas por situações onde "tudo dá errado". Existiram falhas individuais, existiu o cansaço, existiu o problema psicológico do desânimo e remanescentes do abatimento por Ricardo Gomes e existiram, claro, problemas táticos. Mas ressalto, esses problemas tornaram-se graves e definidores apenas quando a partida já estava perdida. Cristóvão apenas consolidou a derrota com sua confusão.

Com base nos acontecimentos recentes, pergunto e respondo:
-Isso é motivo para desligarmos nosso interino e procurarmos outro técnico? Não.
-Ele está à altura de dirigir o Vasco? Não.
-Existe outra contradição no que digo? Apenas aparentemente.

Está nítido que o Cristóvão, assim como Gaúcho, pode ser um grande auxiliar, mas precisa de muito feijão com arroz antes de ser um grande técnico. É óbvio, só poderemos ser campeões com um grande técnico, já que o elenco do Vasco não põe no chinelo o dos nossos concorrentes (mas tem condições de disputar sério). Então por que motivo não devemos chutar logo Cristóvão e contratarmos Joel Santana ou Renato Gaúcho?

Há alguns motivos. Começo do menos para o maior:
- Renato é um aproveitador.
- Joel é o mestre da retranca.
- Por mais que eles sejam bons nas suas propostas de jogo, não são bons o suficiente.
- O mercado de técnicos está muito ruim no Brasil. Ricardo Gomes havia sido um "achado", uma grata "aposta".
- Chutar Cristóvão seria CHUTAR RICARDO GOMES.

Explico o último e maior dos motivos. Por mais que ele não volte a trabalhar com o futebol este ano (ou nunca mais como técnico), precisamos ter a paciência, a hombridade, a consideração, a honestidade, a ética e tantas outras qualidades que DEVEMOS demonstrar de esperar nosso técnico recobrar a consciência, conversar com sua família e ter condições de dar uma posição ao Vasco. Antes de ser profissional Ricardo Gomes é um homem.

Quando ele sofreu o AVC todos disseram que viram ali o pai de família. Agora, que o Vasco tropeçou querem ver apenas a questão profissional? O Vasco tropeçou mas não caiu. A queda seria esfregar a ética profissional, a seriedade, o discurso de continuidade e a imagem do Club de Regatas Vasco da Gama  na lama (onde chafurdam tantos outros "grandes" clubes brasileiros) ao demitir um homem que está em coma induzido por um AVC SOFRIDO ENQUANTO TRABALHAVA.

Levantemos o cabeça. Mantenhamos a corrente positiva para Ricardo Gomes. Atropelemos o Coritiba. Façamos a sequência que é necessária. E só depois, quando Ricardo Gomes tiver plena consciência (o que não demorará, por seu ritmo de recuperação), poderemos pensar no destino de nossa comissão técnica. É questão de ética, é questão de posicionamento humano e é aí que o Vasco sempre se destacou. E é aí que digo: não podemos nos misturar à sujeira do futebol nacional, porque o Ricardo Gomes homem e profissional sempre foi chamado, antes de tudo, de ético e honesto.

Um abraço a todos!

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