sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Com o pé direito! (Vas x Pal)

Amigos vascaínos,

Tivemos um bom começo na Sul-Americana. O Felipão estava certo ao dizer que o time misto do Vasco não era um time misto. Os "reservas" não nos fizeram sentir falta dos titulares, no geral. Renato Silva, apesar de sem ritmo, surpreendeu positivamente, junto com boas atuações de Jumar, Anderson Martins, Fagner, Juninho e Elton. Leandro também surpreendeu, entrando bem pela segunda vez na sua história de Vasco.

Como vinha dizendo, Ricardo Gomes precisava optar por um centro-avante e deixar lá por 90 minutos. Elton entrou hoje e mostrou que pode merecer uma continuidade. Insisto que é de um nível muito proximo de Alecsandro (que no seu auge foi MUITO melhor que Elton) e que, por isso, a escolha do centro-avante é uma questão de momento. Assim, escolher um e deixar 90 minutos em campo acaba poupando os dois das críticas.

Críticas que não podem ser deixadas de lado: Julinho teve um mau dia, fraco na marcação ainda que preso defensivamente; Bernardo entrou o freio de mão puxado; e Diego Souza prendeu demais as jogadas, quando, jogando como atacante precisava de um estilo mais fluido. Passados os destaques individuais, vamos às questões coletivas que são aqui mais importantes.

Entramos em campo de maneira normal. O termo 'normal', porém, está longe de ser uma boa palavra pra definir a partida em vários aspectos. Ofensivamente, com um posicionamento bastante comum: dois volantes centrais, os meias mais abertos e dois atacantes, onde fora do comum estava apenas a variação de posicionamento de Diego Souza, que ora se posicionava já como centro-avante ao lado de Elton ora para vir mais de trás como segundo atacante. Isso é uma das coisas que explica a insistência do Vasco em lançamentos de tipos variados: tínhamos, na frente, dois homens grandes que faziam a famosa "parede" pra dominar de costas pra marcação. Por motivos óbvios, Diego Souza foi muito melhor que Elton nesse quesito.

E é esse também um dos motivos para as críticas a Diego Souza. Ele passou boa parte da partida como centro-avante. E centro-avante não tem como sua principal função arrancar com a bola, ser ousado e diferenciado. Tem que colocar a bola na rede. E o camisa 10 fez isso sem querer. Nessas horas, jogávamos com algo próximo de um 4-3-3, porque Juninho centralizava e Bernardo abria e avançava na meia esquerda como ponta. Infelizmente, era ele que deveria ser o ousado. E foi ele que entrou com o freio de mão puxado, apesar do bom cruzamento. Desenhando, temos então:
Apenas destacando na figura alguns aspectos antes de partir para a questão defensiva. A presença de Bernardo mais adiantado na meia esquerda inibia e reduzia a demanda pela subidas de Julinho, prendendo-o mais à marcação. De maneira oposta, até para poupar o Rei, Fagner subia muito mais, enquanto Juninho organizava o jogo Vascaíno de 3 maneiras possíveis: centralizando-se à frente dos volantes, abrindo na meia direita para as ultrapassagens de Fagner ou penetrando em diagonal na direção da meia lua (o que apareceu menos, mas aconteceu). A ausência de um jogador constantemente posicionado como segundo atacante dificultava a transição do meio para o ataque com passes conscientes e rasteiros. O uso de lançamentos foi até efetivo, mas exagerado.
Defensivamente, o 4-4-2 era diferente. Inicialmente apresentamos uma dificuldade considerável com os ataques suínos pelos flancos. Felipão sabe que nossos laterais marcam mal. Mas Ricardo Gomes também sabe e não demorou tanto a instruir o time a proteger mais os flancos do que o meio. Deu certo, e nos equilibramos. Foi uma questão de posicionamento, e aí, foi surpeendente a aplicação tática e esforço defensivo do Juninho. E ele fez isso por 90 minutos:

A solução passou por basicamente alinhar Juninho, Romulo e Jumar como volantes, onde o primeiro e o último davam o primeiro combate nos flancos, deixando os laterais na sobra. Associado a isso, tivemos um cão de guarda no meio. E não foi o Romulo. Renato Silva foi visto frequentemente saindo da posição de zagueiro especialmente para deixar a vida de Kleber mais emocionante, enquanto o volante ocupava seu lugar. Mas Romulo também teve seus momentos de marcação intensa: Marcos Assunção não poderia em hipótese alguma chegar com liberdade a uma boa posição de chute ou lançamento. Foi a primeira vez que vi o Vasco fazer um esquema especial de marcação para além das zonas, que funcionam muito bem com Gomes e funcionaram igualmente bem com esse incremento.

Para sair no contra-ataque, tivemos uma importante participação dos laterais (onde Julinho apareceu bem mais do que em ataques organizados) e de Bernardo, que tinha liberdade de movimentação, mas ainda assim o freio de mão puxado. Para falar mais mal do garoto, ele tem sérias dificuldade de posicionamento. Na minha opinião, o seu futebol não é nem tão bom como o que apresentou assim que chegou nem tão ruim quanto o que apresentou ontem. Saiu de uma boa para uma má fase sem vermos o "comum" dele. Felizmente, teve seu lampejo num ótimo escanteio cobrado.

Voltamos para o segundo tempo com um resultado favorável, mas que ainda não era bom. Como a partida estava equilibrada e morna até o fim da primeira etapa, voltamos da mesma maneira. O Palmeiras, porém, não voltou bem e tivemos alguns bons ataques pela direita, que não resultaram em nada além de tentativas de Elton. Até o momento, ele tentava, mas não conseguia. A primeira substituição de Ricardo Gomes me surpreendeu. Quando vi Felipe, automaticamente imaginei como ficaria o esquema com ele no lugar de Juninho, porém tirou Jumar.

Tecnicamente, isso significou muito mais qualidade com a bola, já que Jumar tem boa visão de jogo mas tem dificuldades pra colocar os passes que ele pensa em prática e muito menos poder de mercação, por motivos óbvios. A gravidade dessa redução do poder de marcação teoricamente ficaria reduzida pelo fato de que foi mantido o posicionamento defensivo (e o Palmeiras insistia pelas pontas). Assim, Felipe tinha sempre Julinho na sua sobra, de fato. Porém, o problema apareceu de maneira diferente: perdemos tempo na recomposição do meio campo após o ataque (que, taticamente, também não mudou de início). Como nossos atacantes estavam muito avançados para receberem lançamentos, quando saíamos com a bola no pé o meio campo precisava avançar muito e não se recompunha com velocidade suficiente. Primeiro, o problema foi melhorado na base da conversa.

Depois, Ricardo Gomes fez duas substituições significativas: Leandro e Victor Ramos entraram para a saida de Bernardo e Diego Souza. O posicionamento do time tinha que mudar obrigatoriamente. E eu, como todos os outros, imaginei o 3-5-2. E errei. Ilustro abaixo como seria um 3-5-2 com os jogadores em campo, e, depois, ilustro como o time se colocou de fato.
Esquematicamente, teríamos um 3-5-2 ofensivo: apenas 1 volante de ofício no meio campo. Com Julinho em sua posição de melhor rendimento e Fagner fazendo o mesmo pela direita. Teríamos um meio-campo mais povoado. Porém a figura que vi foi outra:
Passamos a um posicionamento muito mais defensivo: Fagner e Julinho não deixaram de ser laterais. Continuavam alinhados com a zaga, mas procuraram sair mais e com mais velocidade para contra-atacar (o que prejudicou o cansado Julinho). Leandro fez o de sempre: se posicionou como Éder Luís para sair na correria e ajudar defensivamente o flanco direito: esforçado como sempre, foi recompensado com um bom cruzamento para Elton, que vinha entrando na área. Ele tem seus méritos por ter acreditado também, e os transfere um pouco para Ricardo Gomes que o deixou em campo por 90 minutos. Junto com isso, vem a dúvida.

Uma partida não tão boa. Mas um começo muito bom na competição. O Palmeiras tem uma grande equipe, e um grande técnico. Isso significa que teremos que aproveitar para as próximas duas partidas contra eles aquilo que nosso técnico tem de melhor: a variação tática. Felipão é um grande técnico, e após ter seu esquema neutralizado, pensará bastante em como organizar o Palmeiras para a próxima partida. Se tudo der certo, perderá denovo e tentará mais uma possibilidade. E perderá denovo. Precisamos disso para mantermos nossas pretensões em alta nas duas competições.

Para o Campeonato Brasileiro, não é agora o essencial ficar na ponta. O fundamental é ficar no bolo da frente para uma arrancada no nosso momento mais fácil da competição. Já na Sul-Americana, precisamos passar as fases. O raciocínio é simples. a prática dele é desafiadora e difícil. Aguardemos.

Antes de finalizar o post, gostaria de comentar: nem sempre que se tem 3 zagueiros joga-se no 3-5-2. Isso parece óbvio, mas vi inúmeros comentários de pessoas falando "desse 3-5-2". Não é porque são 3 zagueiros que temos apenas 3 jogadores no setor defensivo. Os laterais fazem parte dele, e quando estão presentes num esquema com 3 zagueiros temos CINCO jogadores no setor. Foi o que aconteceu ontem. Seria mais aceitável ver as pessoas falando que jogamos com um 5-3-2, mas nem isso. Ainda que Leandro seja atacante de origem, sua posição era a do meia-direita na linha de 4 jogadores: seu diferencial foi o combate no flanco direito e a saída desembestada para o ataque, acreditando em tudo. Elton ficou isolado e centralizado à frente, aguardando exatamente as ultrapassagens dos meias e laterais: deu resultado.

Com isso, ele foi novamente importante para manter a bola no ataque. Tivemos um fim de jogo tranquilo, com uma retranca bem feita. Mais uma variação positiva para Gomes. E ponto negativo para os comentaristas, que sequer citaram a novidade tática do Vasco.

Um abraço a todos!

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