terça-feira, 2 de agosto de 2011

São Paulo X Vasco: sinceramente, o inesperado.

Amigos, não esperava, sinceramente, tal vitória e mais, tal exibição numa partida fora de casa contra o São Paulo.

Não por causa dos tabus que foram repetidos trocentas vezes na mídia. Sinceramente, dou pouquíssimo valor a eles. Não que eu não achasse a vitória possível, ela era. Mas esperava uma partida muito mais complicada e o Vasco organizado especificamente para jogar no contra-ataque.
Grata surpresa. Apesar de vários blogueiros conhecidos e reconhecidos terem afirmado a dificuldade da vitória, opto por esvaziar um pouco este argumento. E preciso dar os principais créditos: Ricardo Gomes. Todas as críticas repetidas aos quatro ventos, inclusive aqui, tornam-se pequenas. Pequenas não apenas por causa dos resultados, mas porque nosso técnico vem demonstrando uma qualidade muito grande, vem demonstrando ter o elenco nas mãos e, além disso, vem superando as críticas. Tira-nos os motivos, que já eram minimizados, para falar mal.

Tenho pra mim, também, que quando o técnico é o maior elogiado e responsabilizado pelo êxito, é injustiça não elogiar o grupo. O Vasco enquanto grupo jogou uma partida marcada pela maturidade, pelo esforço, pelo comprometimento. E tudo isso, na base da conversa, funcionou bem após a consolidação do esquema de marcação no lado esquerdo, próximo da metade do primeiro tempo.

Elogiando técnico e grupo, aproveito para fazer alguns destaques individuais. Da zaga para o ataque: Dedé foi novamente excepcional, justificando a cada dia sua convocação; o comentado penalti de Anderson Martins, que pra mim seria uma marcação extremamente difícil pra qualquer árbitro do mundo, não tira seu valor; Rômulo e Jumar foram muito bem para garantir a consistência defensiva, reforçada posteriormente pela entrada em grande estilo de Eduardo Costa; Diego Souza nos mostrou mais uma vez que, quando se esforça, desequilibra; e Alecsandro e Fagner destoaram do time: o primeiro, apesar do habitual esforço, foi pior do que de costume e o segundo não foi tão mal quanto se comenta, mas precisa melhorar.

Esta partida serviu para reforçar as variações táticas do Vasco. Esta, inicialmente, fcou prejudicada pela falta de treinos ao exibir uma inconsistência defensiva na direita, corrigida no decorrer da partida:
Reparem que o losango, menos consistente defensivamente, foi "abandonado" por Ricardo Gomes nessa partida. Decisão prudente. Penso, porém, que esse abandono não será completo. Apostaria que nas partidas em casa, teoricamente mais fáceis nosso técnico retomará a formação com o meio em losango. Mantivemos, porém, a cobertura dos laterais feita pela zaga, e não pelos volantes.

Tendo essa formação sido abandonada, Romulo é deslocado da posição em que estava jogando melhor (entre os zagueiros) para fazer as vezes de primeiro volante pela direita (por isso, ele vem sendo alvo de pequenas críticas nas últimas partidas: agora ele precisa fazer algo com a bola) para fazer dupla com Jumar pela esquerda. Aparece, porém, a variação que nos causou problemas: Jumar se deslocava para a lateral esquerda na posição de Julinho. Não tínhamos, porém uma troca simples nesse momento. Não faria sentido ter como volantes Romulo e Julinho. A situação se desenhava diferente:

 
Tínhamos, momentaneamente, Julinho jogando na posição de sua estréia: a meia-esquerda. Assim, nossa esquerda defensiva, que estava frágil, ganhava consistência por duas vias: reforço de marcação na zona (um volante na lateral e um volante marcador protegendo o meio) e possibilidade de infiltração do meia pelas costas dos marcadores. Com essa variação ajustada, conseguimos equilibrar a partida, apesar de ainda menos perigosos nas finalizações e penetrações na defesa são-paulina.

O retorno para o segundo tempo veio com a troca de Juninho por Felipe. Isso impossibilitou a continuidade da variação de posicionamento Jumar-Julinho. Simplesmente porque tínhamos um jogador ocupando a meia esquerda de maneira fixa. Era obrigatório, então, fixar também Jumar como volante e Julinho como lateral, o que inspirava cuidados pela ofensividade do São Paulo no setor e pela pouca aptidão defensiva de Julinho. Ilustro essa mudança aproveitando para introduzir o que gerou nosso segundo gol: o posicionamento recuado de Éder Luís nos momentos de defesa. A finalidade? Tanto ajudar na marcação, quanto ter um jogador pronto para puxar o contra-ataque. Assim se postava o Vasco defensivamente:

Tínhamos um grupo extremamente compacto para reduzir os espaços do São Paulo. Isso foi muito efetivo defensivamente, facilitando o trabalho da nossa zaga e garantindo o grande destaque para o setor da defesa. Entretanto, um sistema assim exige saída de bola precisa e muito veloz. Foi o que tivemos a partir da roubada de bola do Dedé, do belo passe de Diego Souza e da incrível velocidade de Éder Luís, que subiu muito bem-posicionado ao contra-ataque. Jogada digna em estar presente em um manual de futebol, sob o título: "como contra-atacar".

Se essa jogada me encheu os olhos, encheu também os dos tricolores. De lágrimas. Mas mais me encheu os olhos a postura do Vasco depois de fazer o gol. Dado o contexto de uma partida fora de casa contra um time muito bom e bem posicionado no campeonato, esperei uma retranca ferrenha. Fizemos, porém, algo que Ricardo Gomes havia introduzido no Cariocão mas deixado para trás: ganhamos o jogo no meio-campo. Toque de bola tranquilo e envolvente, possível apenas com boa movimentação e posicionamento, esperando o momento certo da incisão. Vi muitos comentários de um "Vasco cirúrgico".

Soma-se a isso o meio-campo combativo, que poupou muito do trabalho de Dedé, Martins e Prass. Demos graças à entrada de Eduardo Costa no lugar de Julinho, cansado. Com isso, temos nova alteração: Jumar vai para a lateral esquerda, Romulo volta a ser volante por este flanco e Eduardo "leão" Costa entra na sua posição ideal. Se a velocidade não é sua grande arma, a inteligência e a garra compensam: ele foi o responsável por pressionar o meio campo São-Paulino e impedir sua progressão. Além disso, qualificou um pouco o primeiro passe da saída de bola, contribuindo para mantermos a posse e chegando timidamente ao ataque.

Não há como negar, portanto, a fundamental importância do volante que, aposto, ganhará a vaga de titular contra o Santos. O cansaço de Éder Luís e a entrada de Leandro não trouxeram mudança de posicionamento: o atacante reserva entrou para fazer tudo o que fez Éder Luís. Com o mesmo grau de esforço, mas com um grau muito menos de efeito e objetividade. Uma alteração para manter a tática e prender a bola.

Estratégia perfeita. E coroada pela bela jogada do segundo gol: passe para Jumar, que ameaça ir ao Fundo e centraliza rasteiro para Felipe acertar um belíssimo chute de primeira. Jogada de lateral, sem cruzamento pelo alto (estou decidido a abrir um consultório esotérico-astrológico para profecias: nem só de cruzamentos se faz um lateral).

Terminamos com a moral lá no alto. Uma atuação mais bela do que o que vi em algumas das análises que acompanho, e importante para tentarmos afundar o perigoso Santos e, assim, quase anular suas chances de disputar no alto da tabela. Jogaremos em casa contra um time ofensivo e perigoso individualmente, que joga na velocidade. Espero uma estratégia defensiva semelhante: time compacto, com dedicação na marcação e dois volantes centrais (acredito em Eduardo Costa e Rômulo, já que Jumar deve aparecer na lateral esquerda).

E espero também que Ricardo Gomes cumpra o que disse há algum tempo atrás: o Vasco não joga com esquema de marcação individual. Acho perigoso designar um volante para grudar em Neymar e outro em Ganso, pois os volantes santistas são perigosos e porque num esquema desse, se acontecer o drible o time desorganiza muito mais. Preferiria uma marcação por setores com uma cobertura mais apertada. 

Especulo isso, porém, com algum receio. Teremos uma partida difícil, mas que precisaremos ganhar de qualquer maneira, já que o desmepenho de nossos adversários mais diretos foi positivo nas duas últimas rodadas, enquanto nesta apenas recuperamos o que foi perdido para o Bahia. É justamente essa a hora de ganharmos e secarmos, porque nosso final de turno é extremamente difícil, ao passo que nosso início é mais tranquilo. É fundamental nos mantermos no bolo dos primeiros colocados para tentarmos adquirir "gordura pra queimar" no início do segundo turno.

Um abraço a todos!



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